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Pastos registram invasão de moscas em Reginópolis

Pirajui por Unknown em 7 de agosto de 2014 | 09:34:00

Pecuaristas procuram Sindicato Rural de Bauru que, por sua vez, recorre ao Ministério da Agricultura; usina apontada como causadora se defende

Uma infestação de moscas-dos-estábulos em propriedades rurais do município de Reginópolis vem causando transtornos para os pecuaristas das imediações. Isso porque, por conta do incômodo que o inseto gera, o gado fica irritado, não consegue pastar e, consequentemente, perde peso.

Segundo produtores rurais – que dizem estar tendo prejuízos com o problema –, as moscas estão há mais de 20 dias perturbando o rebanho e outros animais.

Um criador, que não quis ser identificado, afirma que a causa da invasão está relacionada com a Usina de Iacanga. De acordo com ele, o problema é originado por um resíduo chamado vinhaça, resultante do processo de fabricação de álcool.

“No período de irrigação da cana, a usina aplica este subproduto sobre os canaviais”, descreve.

“O problema é que o cheiro da vinhaça atrai as moscas e a mistura deste resíduo com a palha da cana forma um ambiente propício para a proliferação dos insetos”, diz, baseando-se na leitura que fez de pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) sobre o assunto.

Tais problemas fizeram com que os criadores procurassem o presidente do Sindicato Rural de Bauru, Maurício Lima Verde.

“Eles ligaram para vários lugares, mas não conseguiram ajuda. Tentaram contato com a usina e ela não se mostrou disposta a resolver. Então, enviei um ofício ao Ministério da Agricultura, com cópia para a empresa, para ver se conseguimos algum resultado. Estamos agora aguardando”, explica Lima Verde.

Frequente
O pecuarista contou que este problema acontece todos os anos na época da irrigação da cana.

“Há quatro anos, pelo menos uma vez, as moscas invadem os pastos durante todo o processo de irrigação, que dura de 4 a 5 meses. Isto causa muitos prejuízos para o rebanho e para nosso bolso. O gado se rebate para espantar as moscas e fica em conjunto para se defender. Desta forma ele se estressa, não consegue pastar e acaba emagrecendo. Sei de casos em que produtores rurais perderam alguns bois”, fala.

Ele ainda conta que já notificou judicialmente a usina no ano passado, mas nada foi feito. “Outras empresas tiveram este problema e já o resolveram. Nas proximidades das usinas de outras cidades – como Lençóis e Barra Bonita – não há esta infestação de moscas porque elas utilizam a vinhaça corretamente. Não é algo irreversível, tem solução. Caso contrário, em toda época de irrigação de cana haveria um surto de moscas em todos os canaviais do País. Aposto que se fossem os produtores rurais prejudicando a usina, já estaríamos presos”, diz.

Solução
Segundo estudos, a vinhaça sozinha – quando conduzida por tubulações – não fornece as condições necessárias para a procriação das moscas. É comum também que sejam feitos os canais da vinhaça para conduzir e armazenar tal produto.

O problema ocorre quando tal subproduto está armazenado de maneira incorreta – de forma que se acumule e decante depois de aplicado, formando depósitos sólidos – ou quando somado à palha.

Aplicar vinhaça de maneira que ela rapidamente absorvida pelo solo ou enterrar palha da cana seriam algumas das soluções que existem para a questão.

Vinhaça: vantagens, desvantagens no solo
O reaproveitamento da vinhaça nas plantações de cana-de-açúcar tem suas vantagens e desvantagens.

Por um lado, ela traz resultados positivos ao solo graças a sua grande quantidade de nutrientes. Isso faz com que haja uma economia de fertilizantes por parte da indústria e resulte em uma melhor qualidade do canavial.

Além disso, a vinhaça diminui a acidez do solo, reduz a infestação de plantas daninhas, aumenta a população de microrganismos no solo, entre outros.

Porém, suas desvantagens são prejudiciais, pois o excesso do subproduto danifica o solo e as plantas, impede o desenvolvimento de oleaginosas como amendoim e girassol e, quando usado erroneamente, pode gerar a proliferação de moscas no ambiente, como vem acontecendo.

O que é?
Vinhaça, vinhoto ou restilo é um produto pastoso e malcheiroso resultante da destilação e fermentação da cana-de-açúcar no processo de fabricação de álcool. Por se tratar de um resíduo rico em matéria orgânica e nutrientes, sua utilização para a fertirrigação dos solos vem sendo uma prática cada vez mais comum nas destilarias do País. Antes, seu despejo era feito em rios, mas - com o impedimento da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) por causar a poluição de tais lugares - as usinas, agora, a reutilizam no solo dos canaviais.

Empresa dá sua versão
Técnicos da empresa informaram ontem que se reuniram com produtores rurais na Casa da Agricultura de Iacanga e em propriedades rurais vizinhas “com o propósito de esclarecer dúvidas e colaborar no que for possível”. Anteontem, havia respondido que a vinhaça é utilizada como método de fertirrigação da cana de açúcar. “A empresa segue as normas técnicas para o uso correto do subproduto”.

A usina também havia ponderado que “embora a mosca não seja originária da cana de açúcar e nem da vinhaça, com o objetivo de unir esforços, [a usina] contratou a empresa Protecta, especializada no controle de pragas, para orientação sobre o comportamento dessa mosca (Stomoxis Calcitrans), mais conhecida como “mosca do estábulo”.

“Desde então, a usina tem mantido e manterá conversas com produtores da região no sentido de orientação de medidas que possam minimizar a multiplicação dessa mosca e também vem adotando ações de manejo nas áreas cultivadas, como a aplicação de produtos agropecuários no entorno das áreas (da usina).”

Outros animais e gente
Além do gado sofrer perda de até 20% de seu peso, segundo pecuaristas, a mosca também causaria danos aos equinos, animais domésticos e pessoas que trabalham cuidando do rebanho.

“Quando as moscas atingem a idade adulta, ficam hematófagas, ou seja, se alimentam de sangue e possuem picadas doloridas. Geralmente, atacam bovinos e equinos, mas também podem picar homens e outros animais”, diz um veterinário.

Fonte: Mariana Gasparini - www.jcnet.com.br

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