Após acidente, menino de 2 anos sai andando por rodovia

Miguel Camargo tem apenas 2 anos, mas é como se tivesse nascido novamente no último sábado (2). O menino foi encontrado à noite andando sozinho, de pés descalços, sem camisa e com sangue pelo corpo.

Estava no quilômetro 36 da rodovia Mamede Barreto, em Álvaro de Carvalho, na região de Marília.

O garoto estava com o pai, o ajudante geral Anderson Dias, que perdeu o controle do Santana dirigido por ele e caiu num barranco, por volta das 20h de sábado. Miguel subiu a ribanceira, deixou Dias desacordado e acabou resgatado pelo pedreiro Natanael Israel Nunes no meio da estrada.

Até descobrirem que o pequeno Miguel tinha sofrido um acidente automobilístico com pai, demorou mais uma hora. Antes, ele foi levado para o pronto-socorro de Garça, vizinha a Álvaro de Carvalho, pela Polícia Militar.

Nunes voltava de uma pescaria quando enxergou a criança na estrada e se assustou. "Lumiou na frente dele, deu um reflexo (provavelmente causado pelos faróis dos carros que passavam pela rodovia). Virei o olho para o lado onde ele estava e deu um clarão", conta o pedreiro.

O homem parou e não viu nada ao redor além do menino, que foi resgatado por ele e levado primeiro à Polícia Militar de Álvaro de Carvalho.

"Foi coisa lá de cima, do Paizão", conta o pedreiro, morador de Garça. Ele contou ter se preocupado com os cortes que o garoto tinha nas costas, além de picadas de insetos e formigas no corpo.

Na PM, a corporação acionou o Conselho Tutelar. "Aí, socorremos e levamos para o hospital de Garça", conta o cabo Renato Oliveira Marques, 40 anos.

Segundo Marques, a rodovia é perigosa e a criança poderia ter sido atropelada caso continuasse caminhando. "Tentamos acalmá-lo (o garoto) enquanto a conselheira tutelar se deslocava (para a polícia)", conta o cabo Marques.

Ainda na sede da PM, Marques deu suco para Miguel não chorar. "Ele estava descalço, cheio de sangue. A cena foi apavorante. Peguei ele no colo e fomos ao médico", conta a conselheira tutelar Tânia Lopes, 28 anos.

"No começo, a gente não tinha notícia do acidente. Parecia que a criança teria sido abandonada ou sofrido agressão", relata Marques.

Cerca de uma hora após ter dado entrada no pronto-socorro, o cabo foi acionado por causa de um acidente próximo ao local onde o menino foi encontrado.

"Foi então que ficamos sabendo que o pai do menino tinha sofrido um acidente de carro. Ele ficou desacordado, preso nas ferragens. Quando acordou e conseguiu sair, começou a procurar o filho", conta o cabo.

Dias foi tranquilizado sobre o filho por outro policial que foi ao local. Na hora, Dias não soube explicar o acidente. Seu carro capotou quando chegava na fazenda Paraguaçu, de café e gado, onde trabalha e mora com a mulher.

Sem choro
A mãe do menino, a doceira Fernanda Mizael Camargo, 25 anos, só ficou sabendo do acidente horas depois, ainda na noite de sábado (2). "Ele tinha saído para comprar fraldas para o Miguel e outras coisas que faltavam", disse à reportagem nesta segunda-feira (4).

Do momento quando foi resgatado até o atendimento médico, Miguel não chorou em nenhum momento, segundo a conselheira tutelar.

"Ele (bebê) estava em estado de choque, não falava nada. Tinha o olhar desesperado. Em nenhum momento ouvi ele falar nem chorar", relata Tânia.

O menino só chorou quando voltou novamente ao local do acidente junto com a equipe que foi resgatar o pai. "O médico disse que ficou mais aliviado quando o Miguel chorou", conta Tânia.

Não se sabe se Miguel conseguiu se desprender sozinho da cadeirinha de segurança que foi lançada para fora do carro no local do acidente ou se ela se abriu com o impacto.

O que se sabe é que a criança, depois de subir a ribanceira, caminhou cerca de 150 metros na rodovia até ser encontrada por Nunes.

"Fiquei completamente desesperada", diz a mãe que está cuidando do filho e do marido em casa. Os dois passam bem.

Fonte: Paula Sperb/Folhapress - www.jcnet.com.br