Com o fim do ciclo do café, a ferrovia perdeu espaço para as estradas rodoviárias e o transporte de mercadorias passou a rodar pelas estradas sem trilhos, asfaltadas. A privatização das ferrovias trouxe uma nova realidade para as estações: o abandono completo. São inúmeras abandonadas em todo o país. Na região, muitas delas clamam por socorro, mas aguardam doações em processos que correm “a passos de tartaruga”.
Pirajuí aguarda a doação da estação que está em andamento pela Rede Ferroviária Federal. A prefeitura pretende transformar a antiga estação em um centro cultural. O imóvel está todo destruído. Os vitrôs sem vidros, as portas arrancadas, o piso deteriorado e muita pichação.
Restos de roupas e muito lixo
Fazem parte do cenário que beira o macabro. O abandono está nítido para qualquer pessoa que queira ver. Parte do telhado foi destruída por uma locomotiva e até hoje não foi refeito.
Há quatro anos, a prefeitura da cidade solicita o prédio para transformá-lo em um centro cultural, mas o processo de doação está emperrado, explica a coordenadora de comunicação e cultura, Roselaine Sinhorini. “Estamos tentando. Houve várias reuniões com o pessoal da América Latina Logística (ALL) e Rede Ferroviária.”
De acordo com a coordenadora, a Rede Ferroviária Federal está inventariando a estação. “Dependemos da doação. Uma empresa que usou a estação antes da ALL tem que recuperar o telhado destruído por uma locomotiva.”
Em Pederneiras, o centro cultural já é realidade desde 2008 com o nome de “Izavam Ribeiro Macario”. A luta para recuperar a antiga estação durou mais de dois anos. A prefeitura foi buscar verbas em Brasília e só conseguiu em 2007.
Segundo a prefeita Ivana Maria Bertolini Camarinha, a restauração da antiga estação foi um resgate da história da cidade. “Todos os detalhes dos mais de dois mil metros quadrados da antiga estação foram levados em conta no momento da elaboração do projeto do centro cultural.”
A restauração da estação teve sequência. Este ano, um galpão da ferrovia foi transformado em teatro e inaugurado com uma apresentação do maestro João Carlos Martins. O teatro municipal, Flávio Razuk recebeu investimentos do município que totalizaram R$ 2 milhões.
A mesma sorte não tiveram as estações de Avaí, Nogueira e Pirajuí que ainda carecem de projetos que possam resgatar a história de cada uma das comunidades. Em Presidente Alves, a antiga estação acolhe projeto social com crianças de 7 a 14 anos.
Estação de Presidente Alves é sede de entidade
O presidente da Sociedade e Assistência e Ocupação do Menor, Waldemar P. de Camargo, recorda em que situação estava a estação que durante muitos anos registrou a chegada e saída de muitos moradores e visitantes.
“O local era ocupado por pedintes e usuários de drogas. Embora as portas estivessem inteiras, tivemos que fazer reparos. Os móveis já tinham sido levados e o reboco e pintura careciam de retoques.”
Antes mesmo de transformar a estação em sede da entidade, os reparos foram feitos. “Fui convidado a desenvolver um projeto idêntico ao que fazia em Avaí. Como não havia um espaço específico, ocupamos a estação”, diz.
O prédio foi dividido. O antigo setor de encomendas da ferrovia é hoje a sala de informática. As salas ocupadas pela chefia de estação e venda de passagem se transformou em sala da diretoria da entidade e espaço para atendimento de menores do sexo feminino. “O antigo bar é a cozinha.”
A entidade atende cerca de 120 crianças e pré-adolescentes. Atualmente, segundo Waldemar P. de Camargo, esse número deu uma encolhida em função do não oferecimento de alimentação. “Deixamos de oferecer alimentação, a prefeitura parou de fornecer os alimentos e não tivemos condição de bancar. Aqui, eles aprendem culinária, bordado, crochê, pintura em tecido, informática. Tem ainda a polícia Mirim que envolve 100 crianças, meninos e meninas. Em outro prédio, ensinamos música.”
P. Alves e Pirajuí eram exportadoras de café
A data exata, Waldemar Camargo não lembra, mas ainda leva na memória imagens da estação ferroviária no auge do café. “Há mais de 50 anos essa estação era muito movimentada. Presidente Alves e Pirajuí juntas eram as maiores exportadoras de café. O embarque dele era feito em um desvio de linha. As locomotivas vinham e deixavam os vagões lá e aqui (mostra com as mãos os locais). Os carregadores enchiam os vagões com as sacas de café que eram transportadas até o porto de Santos.”
Os fazendeiros entregavam as sacas para o chefe da estação, encarregado de fazer a conferência e despacho da mercadoria até o porto. Era o chefe da estação a autoridade de confiança do Banco do Brasil. “Ele emitia o despacho do café. O fazendeiro pegava o documento e ia no banco retirar o dinheiro correspondente. Imagina a responsabilidade dos chefes de estação. Todo o café era entregue ao governo. Quem exportava era o banco.”
Camargo enfatiza que P. Alves nasceu ao redor da estação, como tantas pelo Brasil afora. “Tudo era café por aqui. Só depois da chegada da estação, as pessoas começaram a construir suas casas.”
Fonte: Rita de Cássia Cornélio - www.jcnet.com.br
eu queria que voltasse o trem de passageiro , mais sei q é impossivel isso acontecer , adorava andar de trem ,
ResponderExcluir